ela tinha medo. medo de que livrar-se dos sentimentos ruins pudesse deixá-la novamente exposta a um carinho sem guarida. foi por isso que mergulhou exageradamente nas mágoas que trazia no peito, a tentar sufocar de vez qualquer importância descabida que ainda insistisse em resistir a todo aquele tempo e distância. mas aquele revestimento de sensações truncadas não assentava-lhe bem. pesava-lhe a alma, corrompia memórias e povoava com pensamentos amargos aquilo que deveria ser sua porção mais doce.
foi quando a vida enfim pediu passagem, que ela entendeu a urgência em esvaziar aquele peito abarrotado de inutilidades e percebeu que os riscos já não eram mais os mesmos. nem ela. hoje anda por aí, ainda um pouco desorientada, tentando abrir novos caminhos e descobrir os passos para semear amanhãs mais leves.
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