E agora me deixe só, inspector. Me custa chamar lembranças. Porque a memória me chega rasgada, em pedaços desencontrados. Eu quero a paz de pertencer a um só lugar, eu quero a tranquilidade de não dividir memórias. Ser todo de uma vida. E assim ter a certeza que morro de uma só única vez. Custa-me ir cumprindo tantas pequenas mortes, essas que apenas nós notamos, na íntima obscuridade de nós. Me deixe, inspector, que eu acabei de morrer um bocadinho.
(A varanda do frangipani, Mia Couto)
as memórias não deixam a gente remar...
ResponderExcluirverdade, débora... de vez em quando o barco pesa, né?!
ExcluirJuliana, acabei de ler O último voo do flamingo, também de Mia Couto. Não quero descrever nada, só dizer que ele, com suas palavras e beleza, me impedem de falar, só sorver tamanha poesia e profundidade. A o livro Varanda do Frangipani, ajudado por esse trecho que postou, será uma das minhas próxima viagens. Um abraço.
ResponderExcluirdos que li até hoje não sei qual o mais lindo, poeta. não sei mesmo! rs... tenho intercalado as obras dele com outras leituras só pra não ver acabar tudo rápido demais. :) é que me toca tanto a alma!
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