a minha infância dividiu espaço com a adolescência da minha irmã. e aquilo que devia ser martírio pra ela, pra mim era um universo de mistério, fantasia (e roupas incríveis).
quando ela adolesceu, entre poemas, receios e sensibilidades, eu tinha entre 5 e 6 anos. aprendi a ler (as letras e o mundo) na tentativa de entender os medos e amores que ela deixava escapar entre cartas, diários, suspiros e insônias. na angústia infantil de entender as coisas difíceis que pessoas grandes não dividiam comigo.
minha mãe conta que a primeira palavra que li em voz alta foi "g-e-o-g-r-a-f-i-a". faz sentido. deve ter sido. mas na minha memória afetiva, a história dos primeiros lidos é um pouco diferente. minha infância cedeu espaço, entre brinquedos e pelúcias, para que os livros e escritos da minha irmã ocupassem as principais prateleiras de mim. vieram quintana, clarice, arnaldo, amado, damário, manoel - o bandeira e o "de barros", cecília e adélia prado. faxinando a memória, o que encontro de mais antigo são (sempre) poemas - um deles em especial, de cecília, chamado "o 4o motivo da rosa":
"Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim."
era difícil e eu sabia de cor, mas não entendia.
hoje tenho palpites.
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